Pergunta de mãe é sempre capciosa, como aquelas que a gente deveria fazer pra político e não faz. Como mãe sempre se sente no direito de fazer coisas que pessoas que não nos pariram não fariam, a minha não finge ter cerimônia na hora de me encostar contra a parede.
Saiu na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos com o título de “Jovens Literatos” o aviso de lançamento do livro “Contra a juventude”, na livraria Argumento. Ela me mostra e pergunta: porque você ainda não escreveu o seu? “Porque não tenho talento”, foi a minha resposta. Ela simplesmente ri, joga o jornal na minha frente e sai do quarto.
A verdade é que eu não sei se posso escrever um livro. Eu sei que eu posso fazer um penne com camarão delicioso, eu sei que posso remendar os furos da minha calça jeans, sei que posso escrever ótimas análises de “Clube da Luta” e de “Persona”, mas não, não sei se posso escrever um livro.
Ter talento para a escrita é saber colocar em palavras toda a crise que se tem dentro de si. Eu acredito veementemente nisso. Só tenho uma pequena pergunta: eu vivo em crise desde os 7 anos, como eu posso ter tamanha falta de talento?
A frase acima não foi aquela tentativa pífia de ler nos comentários deste post um “ah, que isso, você escreve muito bem”, ou o irritante “ah, você está querendo elogios”. Bacana ouvir alguém dizendo que você escreve bem, mas... Se é isso que eu quero fazer para o resto de minha vida, eu preciso ter no mínimo, certeza de que estou fazendo o certo.
Pensa bem: é tenso. Desde criança eu quero ver meu nominho estampado na capa de um livro disposto, de preferência, na primeira bancada de uma boa livraria. Porque ninguém que sonhe em ser escritor vai desejar ver seu livro soterrado na bancada de saldos. Best-seller, sim, por favor.
Enfim, já imaginou viver sonhando com algo e quando isso finalmente está pra tomar forma você descobre que desperdiçou seu tempo lendo 26 livros, escrevendo 50 textos por ano quando na verdade deveria estar procurando receitas de risoto de açafrão na internet?
Medo. Muito. Medo.