quinta-feira, 26 de julho de 2007

Here we go again...

Em 21 anos eu nunca viajei de avião. Vivia em aeroportos porque meu padrasto viajava muito. Mas entrar num avião, eu nunca entrei.

O que antes era motivo de uma pequena vergonha, hoje é motivo de orgulho. Estranho pensar que uma falta de oportunidade pode ter salvo minha vida. Só no Brasil mesmo pra se pensar assim.

Dez meses e duas tragédias depois, eu estou aqui comentando algo que vem sendo comentado em praticamente todos os veículos de comunicação: o caos aéreo.

As longas filas de espera, os constantes atrasos, e os cancelamentos de diversos vôos são agora lugar-comum. Nem choca mais. A incrível capacidade de adaptação do brasileiro fez com que isso não fosse mais do que um incômodo. As tragédias vão dar um pouco mais de trabalho, mas já já também serão esquecidas.

Mas será que devem ser esquecidas? Atentem para os fatos. Em setembro passado (vale lembrar, mês também daquele acidente na Lagoa que matou 5 jovens) o jato Legacy SE CHOCOU NO AR com um Boeing da Gol. Como dois aviões se chocam no ar???? Nem pássaros, animais irracionais, se chocam no ar!

Agora, um avião BATE NUM PRÉDIO depois de bater com sua roda num TÁXI, passando por uma avenida super movimentada! Infelizmente, as pessoas morrem o tempo todo... Mas morrer assim???? Num acidente ridículo? Cuja responsabilidade são de pessoas ridículas num país cujas autoridades se portam de maneira ridícula???

A morte tem como conseqüência a tristeza, o luto e o silêncio. Fiquemos apenas com a tristeza. O silêncio e o luto paralisam o povo, e essa situação não pode ser encarada com o emudecimento.

O que é necessário agora? Fechar Congonhas? Fechemos. Boicotar a TAM e o aeroporto? Boicotemos. Denunciar as autoridades? Denunciemos. Eu realmente não sei o que será necessário para acabar com o caos, mas assim que eu descobrir, vou começar a fazer. E vou continuar andando de ônibus por aí.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Pan pan pan paaaaaaaannnn



(licença para um post atípico...)

Pra começar, o que me chocou foi a saída do Ricardinho. Depois, o fato de ter que sair de casa às 16hs pra ver o jogo do Brasil às 22hs (seis horas de espera pra ver um jogo??? Não sei não...). Mais tarde, ver armas gigantescas nas mãos dos policiais responsáveis pela segurança no Maracanãzinho (seria realmente necessário???). Mais adiante saber que dos seis ingressos que tínhamos em mãos, só três existiam de fato. E uma voluntária com cara de que tinha sido obrigada a estar ali.

Tinha tudo pra ser uma furada. Mas foi perfeito.
Entrada tranqüila, certa confusão na hora de achar os assentos (realmente, já que eles não existiam seria impossível acha-los), mas com o nosso famoso “jeitinho brasileiro” acabou aí. Daí pra frente só alegria. Banheiros perfumados E COM PAPEL HIGIÊNICO. Cachorro quente do Bob’s por um preço que não foi considerado um assalto a mão armada (R$4), e é claro... ELES! A seleção masculina de vôlei.

Meu interesse por esporte é quase nulo. Meu conhecimento esportivo então, nem se fala! Mas se me permitem um pequeno comentário, acho que o Brasil ganhou com folga! E bonito!

No entanto, o que mais me chamou a atenção nessa noite não foram os saques, a organização do Pan, a torcida (que em seu melhor momento começou a vaiar o Bruno para logo depois aplaudi-lo, como deveria ter sido feito desde o início), ou os jogadores. Foi o orgulho de ser carioca e ver que essa festa não poderia ser mais bonita se acontecesse em outro lugar.

Apesar do já citado total desinteresse por esporte ou qualquer coisa que me faça suar desnecessariamente eu resolvi empregar parte no meu tempo neste Pan. Não me arrependi nem um pouco. E o Rio de Janeiro, sua torcida e organização estão de parabéns.

Ouvindo: Only when I sleep- The Corrs

terça-feira, 17 de julho de 2007

Príncipe? Ha!

Antigamente, os príncipes encantados vinham a cavalo. Por falta de outro meio de transporte, e porque carruagem era coisa de mocinha. Quando não podiam vir, mandavam longas cartas apaixonadas e a princesa chorava, chorava e chorava, emocionada.

Hoje, existem carros, motos, aviões, navios, bicicletas e até skates. Ônibus, táxis, metrôs e vans. No caso de falta de gasolina, dinheiro, energia ou fé nos transportes públicos (por mais que eu considere um excesso de desculpas esfarrapadas...) existem os telefones, celulares, faxes (é assim que se escreve??? Sei lá, nunca escrevi o plural de fax...), torpedos via SMS, e-mails, scraps, testemonials, e olha só, ainda existem as cartas!

Agora que o mundo vive a era da comunicação, tudo é meticulosamente preparado para que as princesas nunca percam o contato com seus príncipes. Mas, peraí... Que príncipes? Agora que a existência deles é facilitada eles simplesmente somem! Ou será que nunca existiram?

Eu tenho 21 anos e uma coleção de desilusões amorosas. Sou romântica, mas nem sei explicar porque. Minha mãe não é, muito pelo contrário, nem minha avó, nem minhas primas, e não existe no mundo pessoas menos românticas que as minhas amigas. Então... de onde eu tirei isso??? Sei lá!

Só sei que um episódio de Mothern esclareceu todas as minhas dúvidas... A Raquel explicava pra sua filha, que esperava um príncipe pra uma apresentação da escola, que às vezes o príncipe não vem, e pedia pra ela ir se acostumando.

Esqueça as desculpas de trânsito, cansaço, problemas em casa, estresse no trabalho, medo de comprometimento. O príncipe não vem porque ele simplesmente não existe. Simples assim.

Não existe nenhum homem no mundo que vai te tratar sempre como uma princesa, que é realmente como você merece ser tratada. E são raros os homens que vão te ligar no dia seguinte, te pedir desculpas ao fazer algo errado, ou nunca vão mentir. Existem, obviamente, os que vão fazer isso por algum tempo, mas não espere nunca o tal do “e foram felizes para sempre”.

O amor de Romeu e Julieta só é eterno porque eles morreram, pode ter certeza. Esses casais que você que estão completando bodas de Ouro ou Diamante são lindos de se ver, mas como um quadro. Eles não são reais. No fundo, no fundo, ele reclama que ela é ranzinza quando acorda, ou que a última vez que ela depilou as pernas foi no verão de 67. Ela, por sua vez, detesta o fato dele roncar feito um porco, ou ainda prefere esquecer o nome daquela secretária com quem ele teve um caso há alguns anos atrás.

Hum... eu disse que sou romântica? Perdão, eu ERA! Desisti de procurar o príncipe, agora eu me divirto com os sapos. E se você der sorte como eu, talvez até consiga encontrar um sapo que te faça feliz. Quer dizer, na maior parte do tempo.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

A menina que roubava livros


“O coração humano é uma linha, ao passo que o meu é um círculo, e tenho a capacidade interminável de estar no lugar certo na hora certa. A conseqüência disso é que estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e pior. Vejo sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma coisa pode ser duas. Mas eles têm uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer.”


Sempre ouvi dizer que não se deve julgar um livro pela capa. Mas a única vez que eu contrariei a máxima, não me arrependi nem um pouco.

Quando entrei na livraria e escolhi “A menina que roubava livros” ainda não tinha ouvido falar uma palavra sobre ele. Acho que nem estava na lista dos mais vendidos. Mas eu me apaixonei pela capa e pelas seguintes palavras: “quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler”. Diga-se de passagem é um slogan muito bem escolhido, mas não é capaz de traduzir a idéia do livro.

Aliás, acho que nada do que eu disser em várias palavras nesse blog será capaz da ingrata tarefa, quanto mais um slogan de onze. Afinal, é uma história narrada pela própria Morte! Nada mais original que a Morte interligando parte de sua história, sua caminhada pela Alemanha de Hitler, à história de Liesel Meminger, a menina que roubava livros.

Depois de constatar que Liesel escapara de seus braços pelo menos três vezes, a Morte resolve narrar a vida da menina de um jeito muito particular. Esqueça a imagem da caveira e da foice. A Morte de Markus Zusak é sobretudo irônica. “Os seres humanos me assombram”. De fato, sua narração é pontilhada pela surpresa que os humanos a causam. Afinal, somos capazes de feitos incríveis. As maiores bondades, personificadas pela figura de Hans Huberman, e também as maiores atrocidades, reveladas pela menção ao Führer.

Como educar uma criança na Alemanha nazista? Como ser fiel aos seus valores quando sua própria vida é colocada em risco? Como levar uma vida normal em meio a bombardeios? Como as palavras podem ter tanto efeito? Em suma, como escrever um livro sobre o nazismo sem parecer panfletário?

Parafraseando a Morte eu digo que “os seres humanos me assombram”. Principalmente pela capacidade de escrever histórias extremamente tristes que ainda assim nos arrancam sorrisos.

Ouvindo: Mr. Jones - Counting Crows