quinta-feira, 3 de julho de 2008

22

Junho foi embora e, com ele, o meu inferno astral.

Não deveria se chamar inferno, afinal, já esse período torto, confuso, tosco e dolorido já me acompanha há 22 anos. E eu só aprendi a chamar de “inferno astral” há uns 7. Sim, porque minha mãe conta que desde que eu nasci, todas minhas “evoluções” aconteceram um mês antes do meu aniversário. Portanto, em maio. Em junho, eu tentava me adaptar as mudanças.

Quando você está aprendendo a andar, é lindo. Você tenta se adaptar à sua casa, às quinas dos móveis, enfim, tenta evitar as coisas que podem, fisicamente, te machucar. E antes dos 15 a adaptação nunca leva o nome de crise. Aos 22, no entanto, você já sabe que essa sensação de se adequar a algo que está radicalmente diferente do que era há 1 mês atrás, chama-se crise.

Quando é você que está radicalmente diferente do que era, a crise tem sobrenome: de IDENTIDADE.

Já deu uma olhada no espelho e não se reconheceu no reflexo? Já olhou para seu quarto e não viu sua maneira de ser refletida nos objetos que, até pouco tempo atrás, você venerava? Já abriu seu guarda-roupa e teve vontade de doá-lo todo para uma instituição de caridade? Já sentiu que seus desejos e obrigações não mais coincidiam? Já sentiu cansaço físico por ter que trabalhar, estudar, prestar atenção às pessoas amadas e ainda se manter acordada no meio disso tudo? Parabéns, você também já passou por uma crise como a minha!

Dizem que 22 anos é a idade da loucura. Se isso for verdade, meu aniversário não poderia ter sido um marco melhor. Mas é virando o mundo de cabeça para baixo que se descobre como ele deveria ser de cabeça para cima.

Melodramático? Talvez. Aliás, muito provavelmente. Mas uma coisa eu garanto: não há nada melhor nesse mundo do que passar por uma fase assim, de auto-descoberta e de auto-afirmação. A sensação de acordar um dia e ser capaz de falar “eu sou assim, desse jeito. Gosto disso, não gosto daquilo e hoje eu quero agir assim” é indescritível. Mesmo sendo dramática. Mesmo sabendo que ano que vem, e até mesmo antes disso, tudo vai mudar pelo menos umas 90 vezes.

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