segunda-feira, 17 de março de 2008

Carta ao anônimo

Anônimo,

No post passado você me perguntou o que eu ando lendo. Adorei a pergunta e lamentei muito não poder te responder de forma direta. Afinal, como toda pessoa que AMA ler, eu AMO falar sobre o que eu estou lendo. E amaria passar horas respondendo a esta pergunta, SE eu realmente estivesse lendo alguma coisa.

É, eu sou apaixonada por livros. Pelas histórias, por vê-los nas estantes ou espalhados no chão do escritório, como estão no momento. Por vê-los nas livrarias, nas casas de amigos, folheá-los, etc e tal. É de se supor que eu estivesse de fato lendo alguma coisa, mas eis que me surge um problema.

É um vazio que me dá depois que eu acabo de ler um livro muito bom. Geralmente acontece com os best-sellers. Sem preconceito nenhum, porque existe um motivo para eles venderem tanto: são bons, oras. E depois de terminar um livro que eu gosto muito é quase um fim de namoro (salvo as devidas proporções porque eu também não sou maluca). Dá um vazio existencial daqueles brabos. Quem eu sou? Pra onde eu vou? O que vou fazer da minha vida?

Uma amiga, um dia, comparou num texto o cigarro a um grande amigo. Pois é, não sei. Não fumo. Mas o livro que eu estou lendo (e gostando) se torna meu melhor amigo no mundo. Largo até namorado pra ficar um pouco mais com ele, quando acho que ele está precisando de mim. Às vezes, sou eu que preciso dele, mas nem sempre quero confessar. Às vezes, é ele que precisa de mim, porque tem livros que pedem para serem lidos.

Confesso que sou vulnerável. Troco de amigo como troco de roupa. Não consigo ser amiga por mais de uma semana. E quando consigo é porque o amigo é bem grande e eu ando bem sem tempo pra ele. Quando acaba, dificilmente volto a procurá-lo. É por isso que alguns eu não consigo compreender tão bem quanto deveria. Não dá aquela sensação de encontrar sempre uma pessoa nova naquela que você achava que conhecia tão bem. Não gosto de pessoas imprevisíveis, e talvez seja por isso que não gosto de reler o que já conheço. Um dia, talvez, quem sabe, eu volte a reencontrar a Capitu, o Bentinho, Brás Cubas, Jo March, Tom Sawyer e Dorian Gray. Por agora eu tenho que conhecer mais gente.

Agora, confesso que não ando me prendendo a ninguém. Ninguém, nenhum amigo me apresenta alguém que vale a pena conhecer. Pego, largo, pego, largo. Nada para nas minhas mãos. Coincidiu com o fato de que os outros departamentos da vida não vão tão bem. Aliás, esse pega-larga-pega-larga explica muita coisa. Quando eu estou aérea ou, pelo contrário, concentrada demais em algum problema, todo o resto fica meio nebuloso. Até os amigos. Mas to saindo da fase. Alguém aí tem algum amigo pra me apresentar?

Um comentário:

Anônimo disse...

Assumir-se como anônimo é uma experiência estranha, sobre a qual nunca havia refletido muito, e o fato de eu ter ficado feliz ao compreender a quem o título do post se referia deve dizer algo sobre mim e sobre minha a vida. Algo que não ouvirei, todavia.

Eu amo livros. Eu adoro falar sobre livros. Eu adoro o jeito que vc fala de livros. Eu adoro o jeito que vc fala de outras coisas que não livros (all that you can't leave behind!). Some isso tudo e imagine a vontade que me deu de conhecer vc melhor. Então pensei o quão assustador e psicótico isso poderia parecer para você e a resposta não foi muito promissora...

Sábado eu passeava numa livraria e quase comprei “Precisamos falar sobre o Kevin”, só para saber se minhas impressões sobre o livro seriam parecidas com as suas. Achei isso (de novo) meio maníaco e acabei hesitando... E, então, vc (me) pergunta sobre livros!

OK, eu tenho um monte de livros que eu acho que vc iria gostar. Eu realmente adoraria saber o que vc acha desses livros. E não sei bem como juntar essas duas frases numa frase só, todavia.

De qualquer modo, creio que voltaremos a nos ver...