quinta-feira, 6 de março de 2008

Precisamos falar sobre o Kevin

A primeira vez que eu ouvi falar dele foi no Saia Justa. A Márcia Tiburi comentando já não me lembro mais o que. Depois, uma amiga disse que estava lendo, mas não sabia se achava bom ou não. Depois, outra leu e achou maravilhoso. Eu li e concordei com ela.

Mas Precisamos falar sobre o Kevin não é uma leitura fácil. É gostosa, não exige concentração demais, não dá saltos narrativos que fazem o leitor ficar perdido. No entanto, é pesado. Afinal, uma história sobre um massacre (fictício, mas baseado nas histórias que estamos cansados de ler nos jornais) em uma escola americana não poderia ser muito diferente. Cartas que a mãe do assassino manda para o ex-marido também não pode ser um mar de rosas. Talvez, por isso seja tão bom. Exatamente por mostrar o lado punk da maternidade, num mundo onde ser mãe é ganhar um presente divino.

Concordo absolutamente com isso. Dar luz a um outro ser deve ser uma sensação maravilhosa. Um bebê deve ser realmente um presente dos céus, mas... E quando não é?

Leonel Shriver discute exatamente o tema que muitas pessoas evitam tocar: a maldade inerente a algumas crianças. Afinal, crianças, por mais fofas, graciosas e espertas que sejam, são humanas. E como tal estão sujeitas a serem boas ou más, como todo mundo. Por que então esse assunto é tabu?

Porque todos pensam que a maldade está relacionada com a falta de educação, falta de amor, falta de preceitos morais. Ou seja, culpa dos pais.

Eva Katchadourian, mãe de Kevin Katchadourian –ou KK, como gosta de escrever a imprensa americana- passa 461 páginas se perguntando se a culpa é realmente dela. E o leitor pensando se é realmente possível que uma pessoa seja culpada por fazer outra, no caso um jovem de 15 anos, assassinar brutalmente 11 pessoas.

No meio de toda a discussão, a personagem ainda traça um perfil bastante contundente da sociedade americana, personificada na figura de seu marido, tão patriota que chega a ser cego para alguns fatos que se apresentam diante de seu nariz.

Já Eva, apesar de ter nascido nos Estados Unidos, como uma rica editora de guias turísticos, se considera uma cidadã do mundo. A distância ideal para um questionamento: porque quando algo dá errado naquele país, a culpa tem sempre que ser de outra pessoa?

Como alta executiva, dona da A wing & a Prayer, Eva deixou a idéia de ter filhos em segundo plano. Quando reconsidera sua escolha, nasce Kevin, para colocar à prova todas as idéias pré-concebidas da maternidade. A idéia de uma família comercial de margarina logo vai abaixo. É o lado tosco, punk e até cruel da tarefa de cuidar e educar um ser que nem sempre é um anjinho.

Precisamos falar sobre Kevin é, ainda, um best-seller diferente de todos os que apareceram nos últimos anos. Questões sérias, personagens magistralmente construídos, sem deixar de ter aquela revelação bombástica no final.

Simplesmente GENIAL.

4 comentários:

Anônimo disse...

O que vc anda lendo?

Anônimo disse...

No momento, quero dizer...

february star disse...

eu ñ poderia "falar sobre o Kevin" de maneira melhor.
amo, amo, amo esse livro.

Anônimo disse...

Sou prátimente um Kevin, tirando os crimes constantes, claro...