segunda-feira, 12 de maio de 2008

Memória fonográfica

Ontem, voltando da casa da minha avó, tive um daqueles momentos dignos de cena de road movies. Eu e minha mãe cantando no carro, passando pela praia da Barra. Desde pequena sempre fui apaixonada pela combinação estrada + música, mesmo nunca tendo passado por isso na direção. E como eu tendo a viajar no som, acho que não teria um resultado muito bom. Mas sempre que viaja com meus pais a música tinha que estar presente. Desde Sandy & Junior e Spice Girls nos idos de 1997 até Phil Collins em 2008 nas menores idas ao shopping. A regra é clara: saiu de carro, o som deve estar ligado. A regra também se extende aos churrascos na casa de praia, ao sábado de manhã, ao banho e a todos os momentos onde uma música vai bem. Leia-se: TODOS os momentos.

Seguindo esta regra eu passei por inúmeras fases.

A primeira que eu me lembro é de ouvir Logical Song, do Supertramp, indo para Grumari com a minha mãe. Isso na época em que ainda existia fita cassete.

Depois, teve uma fita (na época em que ainda existia vídeo cassete), onde ela gravava (da TV ou de um vídeo pro outro) só as cenas musicais de vários filmes.

Foi assim que eu aprendi a gostar de tango, vendo Al Pacino dançar Por una cabeza com Gabrielle Anwar naquela cena antológica de Perfume de Mulher (http://www.youtube.com/watch?v=XSIvWzhLrT8). Foi assim também que eu descobri as coisas boas dos anos 80: Flashdance e Perfect, com Jamie Lee Curtis e John Travolta dançando numa academia de ginástica (http://www.youtube.com/watch?v=SEcCM7UOLvY). A cena foi parodiada por Eric Prydz no clipe de Call on me. Terrível, por sinal. Mas tudo bem, a original também era um tanto quanto ridícula. Tinha também uma cena de Sete Noivas para Sete Irmãos, alguma coreografia engraçada onde 14 pessoas dançavam sobre troncos. O mais engraçado é que, com a exceção de Flashdance, eu nunca vi nenhum destes filmes por inteiro.

Ainda da seção “Deus abençoe o videocassete”, minha mãe tinha uma fita com os melhores clipes do Queen. No início eu sentia um pouco medo de Bohemian Rapsody, mas achava que Killer Queen tinha sido composta para mim. Ou melhor, para a mulher que eu gostaria de ser. Não sei porque, mas gelatina de pólvora e dinamite com raio laser pareciam combinar perfeitamente na mesma música. “Garantia de te surpreender”. Genial. Até porque eu cismava que o Freddie Mercury lembrava meu padrinho. Não, meu padrinho não é gay, não teve AIDS, não tocou na maior banda de rock do mundo e não apertou as bochechas de Glória Maria, mas o bigode era idêntico. Até hoje sou fã do Queen. E já perdi o medo de Bohemian Rapsody.

Depois, fui apresentada ao Michael Jackson. Passei dias dando rewind no clipe de Black or White (http://www.youtube.com/watch?v=SEcCM7UOLvY). Achava o máximo aquelas caras que iam se transformando no final do clipe e ainda tinha a melhor frase que eu já ouvi quando se trata de racismo “I’m not gonna spend my life being a color”. Fora que, na época de Esqueceram de Mim, eu podia jurar que me casaria com Macaulay Caulkin. Meu vício por Michael Jackson só aumentou quando eu descobri que a música tema do Vídeo Show é Don’t stop ‘till you get enough e quando eu me deparei com Smooth Criminal e Wanna be starting something. Aliás, o Akon fez uma versão ótima dessa música.

Pink Floyd também fez parte da minha infância/ adolescência. Ainda mais quando eu descobri que você pode cantar Atirei o Pau no Gato no ritmo de Another Brick in the wall. G-E-N-I-A-L!

Um tempo depois surgiu aqui em casa um cd do Paul Simon. Aquele do Simon & Garfunkel. Acho que o nome do cd é Graceland. Simon gravou na África, com cantores locais se não me engano. O resultado é maravilhoso, e me acordou váááááárias vezes nas manhãs de sábado. Mas não tinha problema porque a faixa número 6, You can Call me Al, é PERFEITA (apesar de não fazer o menor sentido pra mim)! Vale dar uma olhada no clipe: http://www.youtube.com/watch?v=HOiVaE-pKqM.

Acho que eu já era um pouquinho maior quando meu pai me apresentou as músicas dos festivais. Eram horas cantando no videokê ou sem acompanhamento mesmo na casa dele. Ele me ensinou que Alegria, Alegria era a música dele e logo passou a ser a nossa. Não escuto essa música sem me lembrar dele.

Aliás, minha madrasta é campeã de jam sessions no carro. Os 100 km que separam Paulo de Frontin do Rio de Janeiro pareciam 5 quando a gente começava a cantar. O repertório geralmente tinha algo de Jovem Guarda (“no sapatinho eu vou, com um laço cor de rosa a enfeitar...”), mas também tinha uma que até hoje nunca ouvi ninguém cantando: “peguei, olhei, chacoalhei, guardei, tornei a pegar, chacoalhar, guardar, tornei a botar no mesmo lugar...”. Essa sempre terminava com uma gritaria infernal, que quase fez meu pai parar em São Paulo, ao perder a saída de Paracambi e rodar mais uns 20km até encontrar um retorno. Foi nessa época também que eu descobri Disparada, do Jair Rodrigues, e aprendi a cantar como a Tetê Espíndola em Escrito nas Estrelas (falando nisso, ela tem outra música)? Era a época em que desafinar era bonitinho e berrar no meio da noite era permitido.

Mas o CAMPEÃO, sem dúvida, é o Phil Collins. Se dvd furasse, o do seu show em Paris já estaria uma peneira. Não há uma reunião em casa em que minha mãe não mostre o dito cujo para as visitas com uma observação bastante peculiar na música Another day in paradise: “ai, eu queria um negão desse pra mim” (http://www.youtube.com/watch?v=0lTb_iz3yj8&feature=related). Mas o que me deixava extasiada mesmo era Lorenzo, que contava a história do filme O óleo de Lorenzo. Lindo, lindo, lindo!

Certas coisas ficam na memória, algumas músicas não vão sair nunca.

Um comentário:

Mônica disse...

Tati,

Queen e Supertramp também são duas das minhas bandas favoritas - vi dois shows do Queen nos anos 80 que foram absolutamente fantásticos! Ainda tenho boa parte das partituras para piano, mas hoje toco raramente, para alívio dos vizinhos...

Essa cena do celeiro do Sete Noivas para Sete Irmãos é mesmo um clássico! Eu costumava ter dezenas de cenas de dança e balé editadas em VHS também, hoje tá tudo selecionado no YouTube, ficou bem mais fácil!

No making of de Graceland, o Paul Simon diz que a idéia pro refrão de You Can Call Me All veio porque alguém numa insistia em chamá-lo de Al, e a Carrie Fischer (sua mulher na época) de Betty. De resto, tem gente que diz que a letra tem a ver com alcoolismo, outros afirmam que é a visão de um homem no terceiro mundo...

Bj.