quinta-feira, 5 de junho de 2008

A falta que o cigarro faz para quem não fuma


Eu não fumo. Meu pai enfartou por causa de cigarro, minha mãe parece uma chaminé, e consequentemente minha casa cheira a cinzeiro. Não tenho nenhum motivo para gostar de cigarro. Mas, por outro lado, não tenho nenhum motivo para banir os fumantes do meu convívio. É por isso que não consigo compreender toda esta cruzada contra o cigarro.

Sim, faz mal. Sim, causa câncer. Sim, causa impotência sexual, sinusite e alergia. E vicia. Faz as pessoas gastarem rios de dinheiro para, literalmente, sujar o pulmão. Ok. Eu entendo tudo isso. Entendo que o cigarro vicia, dá a falsa sensação de companhia, que fede. Mas a verdade é minha mãe fumou enquanto estava grávida – menos, mas fumou - e eu não tenho nada além de uma sinusite que ás vezes, muito raramente, me incomoda. Não tenho câncer (graças a Deus!), obviamente não sou impotente e (graças a Deus mais uma vez!) não sofri com a impotência de ninguém. Talvez porque meu namorado não fume, é verdade. Ultimamente, só o que anda me incomodando mesmo é essa história de tratar fumante – enquanto está no pleno ato de fumar – como leproso.

Uma coisa temos que admitir como verdade. É muito mais fácil para os jovens conviverem com a proibição de fumar em lugares com teto, como diz a nova lei. No nosso tempo (cara, eu já tenho o meu tempo!) fumar já não era coisa bonita. Tudo bem, na adolescência ainda éramos idiotas e alguns de nós achavam o máximo da transgressão acender um cigarro no recreio do colégio. De nada adiantava. Os pais e professores, vindos de uma geração em que fumar era super cool, simplesmente olhavam os pretensos fumantes com aquele olhar condescendente de “meu filho, larga isso, você só está se enchendo de fumaça. Na minha época rebeldia era usar ácido, ouvir punk ou ser contra a ditadura militar”.

Tirando a parte do ácido, acho que a rebeldia de nossos pais era muito mais válida do que a nossa. E dá para entender que numa época cheia de mudanças, fumar era legal. Realmente o cara do Malboro tinha lá seu charme. Por isso, para essa geração, deixar de fumar em lugares fechados é tão difícil. Quem fuma há 40 anos já vê o cigarro quase como amigo. Concordo que quem não fuma não tem nada a ver com isso. Mas... e as pessoas que simplesmente não se incomodam??? Deixei de sair diversas vezes com a minha mãe por gostar de lugares que não tem área de fumantes. E sei que não sou só eu que tenho uma mãe, um parente ou um amigo superhiperultramega viciado em nicotina e que vai deixar de sair por isso.

Não estaria esta lei violando o princípio básico da liberdade de cada um? Eu sei e entendo perfeitamente que seu direito termina onde começa o do outro. Ok. Mas em um restaurante de 80m², alguém fumando a 40m de você faz realmente alguma diferença??? O ônibus que joga a fumaça preta na sua cara enquanto você come cachorro quente na pracinha é tão menos prejudicial assim do que o cigarro? Sei não, gente.

A poluição se encarrega de nos dar o que a proibição do cigarro nos tira. Em compensação, restaurantes perdem clientes, famílias perdem almoços de domingo, e até a piadinha do “foi bom pra você?” está perdida para sempre. Afinal, ainda é possível fumar em motel?

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