sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Eu sou mensageiro


Em uma época em que qualquer demonstração de bondade ou generosidade é interpretada como idiotice, como falar disso sem parecer piegas?

“Ed Kennedy. Dezenove anos. Um perdedor.”
É isso que está escrito na orelha de “Eu sou o mensageiro”, último romance de Markus Zusak lançado no Brasil.

Se nos Estados Unidos- país responsável pela disseminação da cultura dos losers- Ed Kennedy é considerado um perdedor eu não sei. Para mim, que vivo em um país carente de personagens como ele, o cara é um herói. Até porque, aos 21 anos, eu só conheço playboyzinho babaca de 19.

A história começa quando o banco onde está Kennedy é assaltado. Em um daqueles momentos capazes de mudar a vida de alguém (os Hanson chamaram de mmmmbop, mas esse foi um comentário bem desnecessário), ele é responsável pela prisão do assaltante. Logo depois, passa a receber cartas de baralho com pistas de pessoas que, por diferentes motivos, merecem ser ajudadas.

Junto com seu cachorro Porteiro, ele vai tentar descobrir quem são essas pessoas, e qual é sua missão, numa tentativa de não só salvar sua pele – que está sendo ameaçada não se sabe por quem – mas de mudar as vidas que encontra em seu caminho.

Sem sentimentalismo: poucas sensações são tão gostosas quanto a de ajudar alguém, não? Não só um amigo, ou pessoas que a gente conhece, mas também quem a gente nunca viu. Abrir a porta do elevador para o vizinho, carregar as compras de uma senhora, até ser educado com o padeiro, porteiro, gente que te atende todo dia.

“O mensageiro” é exatamente sobre isso. Como os pequenos e grandes gestos podem mudar a vida de alguém. Em uma época em que parecemos predestinados a seguir este ou aquele caminho, em uma cultura que aprendemos que não há meio termo entre um vencedor e um perdedor, ler um livro como esse nos faz ver uma luz no fim do túnel.

Seria só mais um conto bonitinho de Natal, não fosse a habilidade do autor. Mas nas mãos de Zusak se transforma em uma história incrível. Poderia ser brega, se Ed Kennedy não fosse uma mistura interessante entre a ironia e a sensibilidade. E a participação de Zusak no próprio livro poderia ser uma cópia barata de Tarantino se ele não fosse... O cara.

Mas tudo isso não faz ver como é impressionante como tudo muda quando resolvemos fazer algo pelo próximo. Incrível, não?

“Se um cara como você consegue fazer o que você fez, talvez todo mundo consiga. Talvez todos possam superar seus próprios limites da capacidade”.

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